(Resenha) O Palácio da Meia–Noite

Dois gêmeos separados logo após o nascimento. Cada um ficou com a metade de um medalhão para que pudessem se reencontrar no futuro. História batida? Dramalhão mexicano? Sob o fraseado habilidoso de Zafón é uma fábula fantástica cheia de suspense, terror e, é claro, loucura.

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A gente aqui do LeVo já é fã declarado, de carteirinha e com testemunho juramentado no dedinho de Carlos Ruiz Zafón. O autor é meio que o nosso chocolate: até quando é ruim, é bom.  Por isso, se você leitor deste blog procura uma resenha imparcial, abandone este texto agora.

O Palácio da Meia-Noite é uma aventura maravilhosa que conta a história de Been e Sheere, dois gêmeos separados logo depois do nascimento para que não fossem perseguidos pelo assassino de seus pais.

Ben foi criado em um orfanato, onde teve alguns amigos e fez parte de um grupo formado por ele e outros seis órfãos chamado Chowbar Society. De acordo com o “estatuto” do grupo, o problema de um era o problema de todos, assim cada um tinha a obrigação de cuidar e de proteger todos os outros. A Chowbar Society se reunia em um casarão em ruinas carinhosamente apelidado de Palácio da Meia-Noite.

Sheere ficou com a avó que, para fugir do perseguidor de seus netos, a levou a viajar pelo mundo todo sem ter oportunidade de fazer amigos ou mesmo de ter uma moradia em que se fixar. Sheere teve uma vida de medo, apenas intuindo que fugia de alguma coisa, sem que – entretanto – sua avó tenha lhe contado a verdade algum dia.

No dia em que completaram 16 anos (a maioridade na Índia) os dois gêmeos tiveram conhecimento da existência um do outro bem como do fato de que suas almas estavam condenadas a pertencer a outra pessoa.

A história toda se passa em Calcutá e começa em 1916 com um homem correndo no meio da noite, pelas ruas de Calcutá, tentando se esconder do inimigo invisível e carregando consigo os gêmeos Ben e Sheere a fim de salvar suas vidas.

Qualquer um que leia as primeiras páginas do relato automaticamente é transportado para o cenário, como se visse tudo acontecendo em uma tela grande, como no cinema. O texto é tão perfeito que se consegue imaginar o barulho que os pés fazem ao bater no chão lamacento e a respiração ofegante do homem que carrega os bebês.

Trilogia da Névoa

O Palácio da Meia-Noite, é parte da chamada Trilogia da Névoa, junto com Marina e O Prisioneiro do Céu. Os livros não têm relação entre si, são histórias diferentes mas têm em comum o fato de serem dirigidas a um público mais juvenil e foram escritos no início da carreira de Zafón, como ele mesmo esclarece no começo da publicação.

O estilo Zafón

Como já foi dito, O Palácio da Meia-Noite, foi escrito por Zafón no início de sua carreira, quando ainda não tinha tanta habilidade. Agora, com a fama, resolveu republicar seus primeiros escritos.

Temos que admitir que O Palácio não tem a mesma fluidez e não provoca a mesma paixão que A Sombra do Vento, ainda assim já se percebe ali o talento e todos os elementos característicos que o tornariam um autor famoso: a fantasia ou o sobrenatural; a amizade profunda e verdadeira que os personagens conseguem nutrir um pelo outro; e, a loucura.

É absurdamente fascinante o modo como os distúrbios mentais humanos conseguem ser retratados nos livros de Zafón. É o principal elemento de suas histórias.

No começo, imaginei que a loucura de seus personagens viesse do sobrenatural com que eram obrigados a conviver mas, de fato, o sobrenatural não passa de delírio da mente perturbada dos entes que habitam esses mundos criados por Zafón. Assim, não é a loucura consequência do sobrenatural mas sim, o sobrenatural consequência da loucura.

Ficha Técnica:
Título: O Palácio da Meia-Noite
Título Original: El Palacio de la Medianoche
Tradução: Eliana Aguiar
Editora: Objetiva / Suma de Letras
Ano: 2013

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