(Resenha) Nem só de pão

Tenho cinco anos. Estamos indo para o BRASIL!

O navio é tão grande! É como uma grande casa, enorme, sobre a água. Tem um cheiro completamente diferente das casas na terra: uma mistura de óleo diesel — explicou-me meu pai —, mais um cheiro de tinta fresca, mais cheiro de comida em alguns horários e lugares. Além disso, os sons são diferentes, meio ocos. As janelas, que chamam de escotilhas, são totalmente fechadas. De todos os lugares, avistamos somente mar. Mar por todos os lados. Mar que muda de cor, como uma pessoa de humor.


Capa - Nem só de PãoQuando foi assinada a Paz, dando fim à Segunda Guerra, a Europa e os aliados se depararam com um problema: o grande número de refugiados dos países soviéticos que não queriam voltar para lá e não tinham para onde ir. Os aliados — americanos, ingleses e franceses — decidiram então reunir toda essa gente num mesmo lugar. Foram assim criados, na Alemanha, os campos para refugiados.

Foi criada uma comissão internacional para realocar os fugitivos da União Soviética. Vários países se prontificaram em receber certo número deles, como a Austrália, a África do Sul, a Argentina, o Brasil...


Momento Confissão:

Vou confessar que: livros com a temática Segunda Guerra Mundial não são os meus preferidos. Não é uma parte da história que me faça bem saber a respeito. Sempre me incomoda. Além disso, literariamente falando, a maioria dos livros sobre o assunto são muito parecidos. Hitler era mau, os judeus sofreram nos campos de concentração, houve uma boa alma que salvou uma grande parte, etc., etc.. Não me entendam mal, não é que queria ignorar tudo o que a história nos ensina, é só que já li isso tudo antes.  Quero alguma coisa diferente.

Nem só de pão traz esse diferente.

Ao invés de se focar nos Campos de Concentração, o livro mostra o lado dos Campos de Refugiados e, aqui, não estamos falando necessariamente dos judeus.

Mostra com crueza e com um realismo doloroso a situação de um clã que precisou deixar a União Soviética para fugir do domínio Nazista e acabou parando aqui neste nosso país quente e cheio de cores.


O que o livro tem de bom

A história é contada sob a ótica da filha mais nova da família. Carrega aquela mistura de impressões que a criança tem, cheia de esperança, amor e ingenuidade, misturada com depoimentos que colheu dos familiares e que estão carregados de dor, saudade e revolta.

Essa mistura de sensações e de sentimentos provoca saltos de humor durante a leitura, em o leitor é transportado da mais pura e sincera alegria, ao mais cruel e doloroso sofrimento entre uma página e outra.

As cenas são descritas com tanta emoção que quase se sente o frio do inverno russo durante a fuga, ou o cheiro adocicado das bananas quando finalmente chegam ao Brasil.


O que o livro tem de insanamente bom

imageA descrição dos personagens. Não sei se posso chamar de personagens, já que estamos falando sobre um livro de não-ficção, mas, afinal, nesta vida somos todos personagens. Não somos? Os que protagonizaram essa fuga foram muito bem descritos pela criança que fugiu com eles e pela mulher que escreveu o livro.

Natalia Plonski põe os personagens no papel, apresenta-os, faze-nos conhecê-los, nos apaixonarmos por eles, e depois conta sua história. A história de alguém que sentimos que conhecemos, e por isso conseguimos nos alegrar ou sofrer com eles.


O que não é tão bom

Ah! Sério? A quem estamos querendo enganar? Amei o livro inteiro! Estou chorando enquanto escrevo sobre ele. Queria ser capaz de contar tudo o que li, e dizer exatamente o que senti, porque me tocou imensamente.

Vai levar o selo Ressaca Literária do blog, porque é um daqueles livros que ficam na gente depois da leitura.


Nem só de pão viverá o homem

Ler Nem só de pão foi catártico. Até certo ponto e por um breve momento, transformador. Faz pensar em como o fio da vida estica, embaraça, se liberta e volta a se encher de nós. Nós apertados. Nós de marinheiro. Nós que parecem impossíveis de desatar.

Um dia, você é o chefe de uma família abastada, culta e influente, proprietária de terras, respeitada. No dia seguinte está fugindo pelo inverno gelado, vendo sua família se separar, perdendo aqueles a quem ama. Mais tarde, acaba em um país diferente, com uma cultura diferente, em que você não conhece nem ao menos o idioma.

Suas palavras não são mais ouvidas ou respeitadas. As pessoas te olham pelo canto do olho, às vezes te tomam por um estorvo. Não têm qualquer conhecimento da tua história, do teu caráter, dos sacrifícios que fizeste para estar ali, cuidando do que restou da tua família.

Ler Nem só de pão, me fez olhar para minha filha de doze anos e agradecer ao Senhor por ter me concedido a graça de ter nascido numa época melhor, num país que não foi afetado pelos horrores da guerra, por eu não precisar ver a minha menina passar pelos infortúnios por que passou Ada, a irmão de Natalia.

Ler Nem só de pão, me fez agradecer mais intensamente cada prato de comida quente que sou capaz de colocar sobre a mesa e, por aquele breve momento de gratidão, eu consegui estender minha empatia e minha prece de proteção e agradecimento a cada homem, mulher e criança que ainda vive os horrores de outras guerras ao redor do planeta.

Essa é uma força poderosa!


O Leitor Voraz Adverte_thumb[2]


Onde comprar

Nem só de pão é novinho em folha e será lançado na Bienal do Rio dia 07 de setembro, das 18:00 às 20:00 h.

Não estou recebendo dinheiro por esse merchan!

11024766_844001528976491_6840433292933597994_nPode ser adquirido no site da Livraria da Drago Editorial. Se ainda não estiver disponível para venda, manda um e-mail para o SAC deles. São muito atenciosos.

Para os entusiastas de e-book, ainda não está disponível para venda, mas avisamos aqui quando estiver.


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